quarta-feira, 26 de agosto de 2015

CANTIGAS DE AMIGOS


O poema que segue é da poeta Lila Ripoll,
que em minha juventude aprendi a admirar e com quem muitas vezes cruzei nas ruas de Porto Alegre.
Os adolescentes como eu apontavam para aquela mulher baixinha e diziam:  - Ali vai um monumento vivo.
E estávamos certos.

GRITO

Não. Não irei sem grito.
Minha voz nesse dia subirá.
E eu me erguerei também.
Solitária.
Definida.



As portas adormecidas abrirão
passagem para o mundo.

Meus sonhos, meus fantasmas,
meus exércitos derrotados,
sacudirão o silêncio de convenção
e as máscaras de piedade compungida.

Dispensarei as rosas, as violetas,
os absurdos véus sobre meu rosto.

Serei eu mesma.
Estarei inteira sobre a mesa.
As mãos vazias e crispadas,
os olhos acordados,
a boca vincada
de amargor.

Não. Não irei sem grito.

Abram as portas adormecidas,
levantem as cortinas,
abaixem as vozes
e as máscaras -

que eu vou sair inteira.
Eu mesma. Solitária.
Definida.

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