apagar as luzes,
já lambi o sol nos olhos das crianças
já lambi o sol nos olhos das crianças
esconder os segredos das
árvores,
já entendi a linguagem das
folhas no verde do vento
fechar todas as janelas,
tenho a cópia de todas as
paisagens
destruir todos os jardins,
libertar meus pássaros,
já engaiolei todos os seus
cantos
cortar minhas asas,
desenhei na memória o peso de
todos os voos
tapar meus ouvidos,
já gravei o cri-cri dos grilos e
o marulho das ondas
retirar minha pele,
já senti nos ossos o hálito dos
verões
negar-me a maçã,
já degustei o mel de todos os
frutos
apagar a lua e os vaga-lumes,
já guardei no bolso as alegrias
da infância
queimar todos os livros,
já decorei meu poema favorito
tirar-me o espaço,
construí minhas asas durante o
voo
castigar-me,
domei a dor e tenho as rédeas do
sofrimento
privar-me dos sonhos,
já derrotei meus moinhos de
vento
atirar-me no vazio,
já assimilei a vertigem do
abismo
decretar o fim do pôr do sol,
guardei na retina as tintas do
ocaso
roubar-me a paisagem,
já inundei meus olhos com a cor
dos ipês
tapar-me os ouvidos,
já acordei os galos para
despertar as manhãs
privar-me das rezas,
já pedi a bênção aos fantasmas
podes abandonar-me,
conservo sob as unhas o cheiro
da tua pele.
Fantástico!
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