quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

CANTIGAS DE AMIGOS


 PODES     (Vasco P. de Oliveira)

apagar as luzes,                                         
já lambi o sol nos olhos das crianças
              
esconder os segredos das árvores,
já entendi a linguagem das folhas no verde do vento

fechar todas as janelas,
tenho a cópia de todas as paisagens

destruir todos os jardins,
adivinho pétalas nas asas das borboletas

libertar meus pássaros,
já engaiolei todos os seus cantos

cortar minhas asas,
desenhei na memória o peso de todos os voos
              
tapar meus ouvidos,
já gravei o cri-cri dos grilos e o marulho das ondas

retirar minha pele,
já senti nos ossos o hálito dos verões

negar-me a maçã,
já degustei o mel de todos os frutos

apagar a lua e os vaga-lumes,
já guardei no bolso as alegrias da infância

queimar todos os livros,                                                                
já decorei meu poema favorito


tirar-me o espaço,
construí minhas asas durante o voo

castigar-me,
domei a dor e tenho as rédeas do sofrimento

privar-me dos sonhos,
já derrotei meus moinhos de vento

atirar-me no vazio,
já assimilei a vertigem do abismo

decretar o fim do pôr do sol,
guardei na retina as tintas do ocaso

roubar-me a paisagem,
já inundei meus olhos com a cor dos ipês

tapar-me os ouvidos,
já acordei os galos para despertar as manhãs

privar-me das rezas,
já pedi a bênção aos fantasmas

podes abandonar-me,
conservo sob as unhas o cheiro da tua pele.


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