O conto “O gorro do andarilho”, que integra o livro A coleira no pescoço, foi analisado em artigo acadêmico publicado por Flavia Karla Ribeiro Santos e Vera Lucia Rodella Abriata na revista RECORTE, do Mestrado em Letras: Linguagem, Cultura e Discurso / UNINCOR V. 13 - N.º 1.
ACONTECIMENTO EM “O GORRO DO ANDARILHO” DE MENALTON BRAFF
(Flavia Karla Ribeiro Santos1 Vera Lucia Rodella Abriata2)
RESUMO: Analisamos neste trabalho o conto
“O gorro do andarilho”, que integra o livro A coleira no pescoço,
coletânea de contos de Menalton Braff, a partir do referencial teórico da
semiótica francesa. Nosso objetivo é demonstrar o modo como um acontecimento
irrompe no texto e altera a rotina do ator protagonista, um andarilho que,
sentindo-se espoliado de condições dignas de vida, tem essa sensação
intensificada com o roubo do gorro que o protegia do frio, único objeto-valor
de que dispunha. Para isso, aplicamos ao texto pressupostos teóricos da
semiótica da ação e da semiótica tensiva. Utilizamos na análise o conceito de
acontecimento, primeiramente formulado por A. J. Greimas em Da imperfeição, e
posteriormente sistematizado por Claude Zilberberg em suas últimas obras.
PALAVRAS-CHAVE: Semiótica Francesa;
Rotina; Acontecimento.
RÉSUMÉ: Nous examinons dans cet article le
conte littéraire “O gorro do andarilho”, qui fait partie intégrante du livre A
coleira no pescoço, d'une série de contes de Menalton Braff, à partir du
cadre théorique de la sémiotique française. Notre objectif est de démontrer
comment un événement éclate dans le texte et modifie le exercise de l'acteur
protagoniste, un errant qui en se sentant spolié des conditions de vie décentes
a ce sensation intensifiée avec le vol de son bonnet qui protégeait-t-il du
froid et il était le seul objet de valeur qu’il possédait. Pour cela,
appliquons-nous au texte postulats théoriques de la sémiotique de l’action et de
la sémiotique tensive. Nous employons dans l'analyse le concept de l'événement,
tout d'abord formulé par A. J. Greimas dans De l’imperfection et plus
tard systématisé par Claude Zilberberg dans ses dernières oeuvres.
MOTS-CLÉS: Sémiotique Française;
Exercise; Événement.
Introdução
Preocupada com o sentido, ou, mais precisamente, com o
parecer do sentido, a teoria semiótica francesa tem suas bases nos estudos do
semioticista lituano Algirdas Julien Greimas que, nos anos 1960-1980,
desenvolveu
um modelo de análise textual baseado em um percurso, o percurso
gerativo do sentido. Tal percurso, que constitui a denominada semiótica da
ação, é composto de três níveis, organizados e combinados por meio de regras
sintáxicas e semânticas. O percurso gerativo de sentido examina a construção
dos sentidos de textos verbais, não verbais e
sincréticos. Suas estruturas mais simples e abstratas compõem o nível
fundamental onde a significação é apreensível a partir de uma oposição
semântica mínima. O nível intermediário do percurso, o nível das estruturas
narrativas, apresenta certo grau de concretização e simula o fazer do homem em
busca de valores que dão sentido a sua existência, manifestando as relações ora
contratuais ora polêmicas que ele estabelece em busca desses objetos de valor.
Por sua vez, o nível discursivo, o mais concreto e complexo, é o lugar em que o
sujeito da enunciação projeta atores, espaço e tempo e simula o mundo natural
ou ficcional, construído pela linguagem, por meio de figuras que recobrem
temas. São esses revestimentos temático-figurativos, o lugar do ideológico no
discurso, de acordo com Barros (1988, p. 124).
No final da década de 1980, Greimas publica Semiótica das
paixões, em coautoria com Jacques Fontanille, centrando os estudos
semióticos na dimensão patêmica do discurso, e Da imperfeição, obra em
que desenvolve o conceito de estesia e na qual elabora uma leitura semiótica da
apreensão estética. Tais obras abrem caminho a estudos voltados para os afetos,
inscritos e codificados nas linguagens. Assim, à semiótica da ação, associada
ao inteligível, vêm somar-se reflexões sobre o sensível. Por sua vez, a partir
dos anos 1990, Jacques Fontanille e Claude Zilberberg dão sequência aos estudos
sobre o sensível, por meio da denominada semiótica tensiva.
Neste trabalho, aliamos elementos da semiótica da ação a
elementos da semiótica tensiva com o objetivo de analisar um conto brasileiro
contemporâneo “O gorro do andarilho” (BRAFF, 2006). O texto integra a obra A
coleira no pescoço, finalista do prêmio Jabuti 2007. O autor, vencedor do
prêmio Jabuti-2000, com o livro de contos À sombra do cipreste,
destaca-se no panorama literário brasileiro por abordar em seus textos os
desafios enfrentados pela sociedade brasileira contemporânea, por meio da
focalização de temas como “a incomunicabilidade, a apatia, as inações, a
pobreza, a luta de classes e a exploração do trabalho”, segundo Silva. Ainda de
acordo com a pesquisadora, “[...] as personagens braffianas carregam, em alguma
medida, o estigma de uma sociedade dilacerada” (SILVA, 2011, p. 111-115), como
se observa nas páginas do conto em análise por meio da construção do ator
Andarilho.
No conto “O gorro do andarilho”, objeto desta análise, o ator
protagonista é um sujeito cujo gorro – proteção do frio e único bem de que
dispõe – é roubado por um companheiro, o Gordo, que reluta em
devolvê-lo e ainda zomba do sujeito espoliado de seu objeto-valor. Isso
ocasiona a irrupção de um acontecimento no texto, a morte do Gordo, operada
pelo Andarilho. Tal acontecimento é o foco em que se centra a análise deste
texto.
Procedemos a seguir a uma reflexão sobre os conceitos de rotina
e acontecimento para, posteriormente, examinarmos o modo como esse
acontecimento, tal como o entende Claude Zilberberg, irrompe no texto.
A concepção de acontecimento em Semiótica
Em sua obra Da imperfeição, Greimas (2002, p. 25)
define a apreensão estética como uma fratura em que o sujeito se depara com um
acontecimento extraordinário que, pontual e imprevisível, suspende o curso do
tempo e petrifica o espaço, instaurando a fusão entre sujeito observador e
objeto observado. O conceito de acontecimento, elaborado por Claude Zilberberg
(2007), pode começar a ser lido sob essa perspectiva. O semioticista francês,
ao desenvolver a noção de acontecimento, concebe-a em oposição ao fato. Desse
modo, destaca a relação de oposição entre acontecimento e fato:
[...] o fato tem por correlato intenso o acontecimento, o que
equivale dizer: o fato é o resultado do enfraquecimento das valências
paroxísticas de andamento e de tonicidade que são as marcas do acontecimento.
Em outras palavras, o acontecimento é o correlato hiperbólico do fato, do mesmo
modo que o fato se inscreve como diminutivo do acontecimento. Este último é
raro, tão raro quanto importante, pois aquele que afirma sua importância
eminente do ponto de vista intensivo afirma, de forma tácita ou explícita, sua
unicidade do ponto de vista extensivo, ao passo que o fato é numeroso. É como
se a transição, ou seja, o “caminho” que liga o fato ao acontecimento, se
apresentasse como uma divisão da carga tímica (no fato) que, no acontecimento,
está concentrada. (ZILBERBERG, 2007, p. 16).
Isso quer dizer que quando a intensidade da carga tímica3
é fraca, temos o fato, o que ocorre com mais frequência no
cotidiano. Nesse caso, o andamento é desacelerado e a tonicidade é átona na
valência de intensidade4, ao mesmo tempo em que, na valência de extensidade, a
temporalidade é prolongada e a espacialidade aberta, o que corresponderia à
“divisão da carga tímica” a que se refere o autor. Quando a carga tímica das
valências tensivas é recrudescida, o que é
incomum, temos o acontecimento, ou seja, o andamento5
da valência de intensidade é acelerado, e a tonicidade6
é tônica, acompanhados de uma temporalidade momentânea em um
espaço fechado na valência de extensidade, equivalendo à concentração da carga
tímica, como se observa na passagem acima.
O autor de Elementos de semiótica tensiva (2011, p.
164-165) afirma que a reflexão sobre o acontecimento é anterior à linguística e
à semiótica. Essa reflexão remonta a estudos de Descartes sobre a admiração.
Esses estudos propiciam ao autor destacar a importância do intervalo existente
entre o esperado, que seria o foco e seu objeto, e o inesperado, isto é, a
apreensão e seu objeto. Nessa perspectiva, opõe a admiração à percepção.
Zilberberg considera que a primeira, como “intensidade repentina e superior
daquilo que sobrevém” é inerente ao objeto acontecimento. A admiração,
relacionada ao sofrer, penetra no espaço tensivo e instala a percepção como seu
correlato, “inacentuado ou desacentuado” (ZILBERBERG, 2011, p. 165). A
percepção, por sua vez, se vincula ao agir. Assim, em contraposição ao estado,
que é resolução dos sincretismos intensivo e extensivo projetados pelo
discurso, o acontecimento é a figura do inesperado, por isso não pode ser
antecipado. É, portanto, “algo afetante, perturbador, que suspende
momentaneamente o curso do tempo” (ZILBERBERG, 2011, p.169). Todavia, o tempo
não pode ser impedido de retomar o seu curso, e o acontecimento esmaece de tal
forma que se potencializa, tornando-se legível e inteligível (ZILBERBERG, 2011,
p.169).
Além disso, segundo o autor (2007, p. 16), a configuração do
acontecimento, assim como a configuração do exercício (ou rotina), não ocorre
apenas na concentração ou na divisão da carga tímica do sujeito, pois a relação
entre o sujeito e seu campo de presença, lugar onde agem as grandezas tensivas,
é mediada pelos modos semióticos. O conceito de modo é introduzido nos estudos
sobre o acontecimento, em semiótica, tendo em vista explicitar e resolver o
sincretismo existencial entre fato e acontecimento, e ainda para determinar o
“precipitado de sentido que constitui, tanto coletiva quanto individualmente, o
acontecimento” (ZILBERBERG, 2007, p.16).
No artigo “Le
libertinage comme forme de vie”, Zilberberg (2012, p. 4) ratifica a afirmação
de que os modos constituem o sentido no acontecimento ao asseverar que os modos
semióticos visam à relação do sujeito com o que o avizinha, ou seja, com o
campo de presença. Nessa relação, ora o sujeito controla o campo de presença,
ora dele escapa. Servindo de mediação entre o esquema e o discurso, esses modos
se dividem em modos de eficiência, modos de existência e modos de junção, a fim
de explicarem a relação do sujeito com o que está a sua volta.
Dessa forma, com base na natureza dos modos semióticos, o
acontecimento comporta, simultaneamente, “o sobrevir para o modo de eficiência;
a apreensão para o modo de existência; a concessão para o modo de junção”
(ZILBERBERG, 2007, p. 24). Já o conseguir, como modo de eficiência, a
focalização, como modo de existência e a implicação, como modo de junção,
complementam-se na constituição do exercício (ou rotina), termo mais próximo do
agir, como esclarece Zilberberg (2007, p. 24-25).
Os modos de eficiência representam a forma como as grandezas
de intensidade e de extensidade penetram no campo de presença do sujeito sob as
condições do tempo. Tem-se uma oposição entre o sobrevir e o conseguir. O
sobrevir é entendido como negação do pervir, ou seja, aceitação do inesperado,
que é o acontecimento. Porém, quando o sujeito requisita a instalação das
grandezas tensivas em seu campo de presença, tem-se o conseguir.
Tanto o sobrevir quanto o conseguir são regidos pelas
subvalências de andamento e de temporalidade, cabendo ao sobrevir o andamento
acelerado. Tendo em vista a extensão temporal, ao conseguir concerne o agir e a
paciência (ZILBERBERG, 2007, p. 18-21) e ao sobrevir cabe, nas palavras de
Zilberberg (2007, p. 19) “a brevidade, a do sofrer, que o inesperado,
precipitadamente, impõe ao sujeito”. Assim, no sobrevir, as competências do
sujeito são excedidas pelo tempo de forma instantânea e devastadora, enquanto a
lentidão do conseguir respeita os limites de tempo que o sujeito reconhece
(ZILBERBERG, 2012, p. 4).
Sobre os modos de existência, o semioticista francês afirma
que têm a função de alongar “as consequências subjetais abertas pelo modo de
eficiência” (ZILBERBERG, 2012, p. 5). De acordo com Zilberberg (2012, p. 5), a
surpresa, determinada pela modalidade do sobrevir, embaralha o jogo do antes e
do depois, permitindo que o sujeito passivo, “espectador de seu próprio
conflito” seja apreendido. O sujeito se vê em uma situação para a qual não está
preparado, atualizado, pois não espera pela surpresa. Na apreensão, também está presente a exclamação,
associada às valências de tempo e de tonicidade, instalada no campo de presença
do sujeito, assim como o sobrevir. O conseguir é manifestado pelo foco e pela
espera. Esta está sob o controle do tempo, assim como o modo de eficiência. Ela
se manifesta pela paciência e pela impaciência, que não são medidas pela
realização de um programa de junção. Nas palavras do pesquisador, “o sujeito
paciente julga a velocidade razoável e suportável, enquanto o impaciente a
considera insuportável” (ZILBERBERG, 2012, p. 5).
Sendo assim, como observa Zilberberg (2007, p. 21-23), dos
modos de existência, que são dependentes dos modos de eficiência, fazem parte a
focalização e a apreensão. A focalização caracteriza o sujeito operador, que
visa a algo e, por isso, ela “se inscreve como mediação entre a atualização e a
realização” do sujeito. Em oposição, a apreensão caracteriza “o estado do
sujeito de estado” atônito com algo que lhe aconteceu, o que corresponde ao
estado de potencialização do sujeito.
Em seu Dicionário de Semiótica, Greimas e Courtés
(2011, p. 279) descrevem o termo junção como “a relação que une o sujeito ao
objeto, isto é, a função constitutiva dos enunciados de estado”. Essa relação a
que se referem os pesquisadores pode ser de conjunção, disjunção, não conjunção
e não disjunção, consoante o quadrado semiótico. Na perspectiva tensiva, “o
termo se refere à condição de coesão pela qual um dado, sistemático ou não, é
afirmado” (ZILBERBERG, 2007, p. 23). Para que essa coesão se estabeleça, os
modos de junção requerem a implicação e a concessão. Na implicação, há um
respaldo mútuo entre o direito e o fato que, representado pelo “porque”, corresponde
à expressão “se a, então b”. Na concessão, há uma discordância entre o
direito e fato, representada pelo “embora” e pelo “entretanto”,
correspondendo à expressão “embora a, entretanto não b” (ZILBERBERG,
2007, p. 23, grifos do autor).
Logo,
A tensão própria à sintaxe juntiva opõe a concessão à
implicação. Como categoria, a concessão é emprestada à linguística que
considera como expressão de uma “causalidade inoperante”, ou seja, que o
sujeito constata que a causa que o solicita não produz a consequência esperada.
A esse título, a concessão é uma das vias de acesso à semiótica do
acontecimento. (ZILBERBERG, 2012, p. 8)
Assim, o acontecimento é a essência do sistema que compõe o
modo quando “concebido como sobrevir, ou seja, como realização do irrealizável”.
Esse sistema
[...] leva em conta a modalidade implicativa do realizável.
Por sua vez, o acontecimento dá como certa a modalidade concessiva que instaura
um dado programa como irrealizável e um contraprograma que, no entanto, levou a cabo sua realização:
“não era possível fazer isso e, no entanto, ele o fez!”. (ZILBERBERG, 2011, p.
176-177).
Considerando, pois, a relação (tensiva ou não) entre o
direito e o fato, Zilberberg (2012, p. 5-6) conclui que a grandeza do sobrevir
não faz parte da espera do sujeito. Na espera, a relação no campo de presença é
implicativa. No inesperado, é concessiva. Dessa forma, os enunciados
implicativos são considerados normais, ordinários. Já os enunciados concessivos
são tônicos, motivo pelo qual, na concessão, aquilo que aconteceu de fato
prevalece sobre o que deveria ter acontecido (como se esperava que
acontecesse).
A sintaxe do acontecimento
Zilberberg (2011, p. 169-171) afirma que é necessário
verificar as dinâmicas intensivas de andamento e de tonicidade e as dinâmicas
extensivas de temporalidade e de espacialidade produzidas pelo acontecimento no
espaço tensivo. Na intensidade, segundo o autor, o andamento e a tonicidade
agem ao mesmo tempo e repentinamente, provocando desorientação modal no sujeito
e falta de atitude. A tonicidade afeta o sujeito integralmente de tal modo que
o acontecimento, quando pode ser assim denominado, “absorve todo o agir e
de momento deixa ao sujeito estupefato apenas o sofrer” (ZILBERBERG,
2011, p. 171, grifos do autor). Na extensidade, a temporalidade é “fulminada,
aniquilada” e sua recomposição “está condicionada à desaceleração e à
atonização, ou seja, ao retorno àquela atitude que o acontecimento suspendeu
momentaneamente” (ZILBERBERG, 2011, p. 171). O sujeito deseja voltar a
controlar e dominar a duração para, de acordo com sua vontade, nas palavras de
Zilberberg (2011, p. 171), “alongar o breve ou abreviar o longo”. Na
espacialidade, deixa de existir a escansão do aberto e do fechado, uma vez que
o aberto se ausenta do campo de presença a fim de manter apenas o fechado.
Desse modo, o sujeito fica paralisado, estarrecido, como se o seu ambiente
deixasse de existir (ZILBERBERG, 2011, p. 172).
Nas palavras de Zilberberg (2011, p. 174), o acontecimento
tem uma “valência intensiva complexa e compõe um andamento extremo, o da
instantaneidade, e uma tonicidade superior, sempre difícil de formular”, visto
que é vivenciada. Por isso, é associada aos modos de existência. Desse modo,
embora o que sobrevém não possa ser atualizado, pode “ser relembrado enquanto
permanecer vívida a subvalência de tonicidade” (ZILBERBERG, 2011, p. 174).
Semanticamente, segundo
o semioticista, o produto do andamento e da tonicidade, na opinião do
pesquisador “seria a força que precipita o acontecimento em discurso”
(ZILBERBERG, 2011, p. 175), entendendo como andamento a velocidade de
penetração, que é composta pela velocidade de desagregação e pela velocidade de
apassivação, ao mesmo tempo em que a tonicidade é metaforicamente representada
pelo lexema choque – lexema comum na maneira de falar contemporânea e que
configura a virtualização do estereótipo que geralmente o acompanha
(ZILBERBERG, 2011, p. 175).
Logo, no acontecimento,
[...] o sujeito se vê em conjunção com um sobrevir que
transtorna e por vezes suprime a duração e a espacialidade. [...] O sobrevir do
acontecimento vem anular a própria textura do tempo, isto é, a “virtude”
potencializante da temporalidade.[...]
,
O acontecimento, na qualidade de grandeza tensiva, deve ser
apreendido como uma inversão das valências respectivas do sensível e do
inteligível. Marcado por um andamento rápido demais para o sujeito, o acontecimento
leva o sensível à incandescência e o inteligível à nulidade. (ZILBERBERG, 2011,
p. 189-190)
Desse modo, a temporalidade só recupera a memória suspensa
pelo acontecimento por meio de um contraprograma de freagem específico,
desenvolvido pelo discurso conforme se restaura sua historicidade (ZILBERBERG,
2011, p. 189-190), ou seja, quando se transforma em exercício. Nesse sentido,
como diz Zilberberg (2007, p. 25-26), o exercício e o acontecimento se
configuram como grandes orientações discursivas divididas em discurso do
exercício e discurso do acontecimento. O primeiro se associa ao discurso
histórico, que se interessa pela “minúcia dos exercícios e dos funcionamentos”.
O segundo se associa ao discurso mítico, tendo em vista sua relação com a surpresa
e com o que dela resulta.
Concluídas as reflexões acerca da noção de acontecimento em
semiótica, passamos à análise de “O gorro do andarilho”.
O acontecimento em “O gorro do andarilho”: da semiótica do
inteligível para a semiótica do sensível
No conto “O gorro do andarilho”, o ator, que é nomeado pelo
papel temático de “andarilho”, é um sujeito de estado manipulado pelo desejo de
recuperar seu gorro, furtado por outro companheiro, o Gordo. O Andarilho é um
homem solitário, que se encontra a contragosto na
companhia do Gordo. O gorro é seu único bem, protegendo-o contra o frio que
sente vivendo na rua, depois de ter sido privado do emprego e da família. Ao
acordar um dia depois de uma sesta, o Andarilho vê seu gorro na cabeça do
Gordo, pede o objeto-valor de volta várias vezes, mas este, no papel de
antissujeito, não o devolve e ainda ri incessantemente do proprietário do
objeto. Crendo ter direito ao gorro e sentindo-se menosprezado pelo Outro, o
Andarilho, utilizando uma pedra, golpeia o Gordo na cabeça e recupera o
objeto-valor.
Tendo em vista o percurso narrativo do ator Andarilho, ele é
um sujeito em estado de errância que dorme à beira das estradas, sentindo muito
frio. No primeiro inverno nessa condição, o gorro é doado a ele por um
transeunte, metaforicamente figurativizado como um “anjo” – “Abriu bem os olhos,
o mais que pôde, pois queria ver a cara do anjo” (BRAFF, 2006, p. 128).
Conjunto com o gorro, o sujeito acostuma-se ao calor proporcionado pelo objeto,
sinônimo da proteção que perdera quando ficou desabrigado. Sete anos após tal
fato, ao acordar da sesta do almoço e ver o gorro na cabeça do Gordo, o
Andarilho percebe que está disjunto do objeto-valor. Ele volta a sentir o frio
de outrora e é modalizado pelo querer-fazer, recuperar o objeto. Atordoado pelo
inesperado roubo, o Andarilho pede ao Gordo que lhe devolva o gorro – “Me dá!”
(BRAFF, 2006, p. 127) –, mas o Gordo revela-se um antissujeito e quer
não-fazer; ou seja, devolver o objeto, como se evidencia na passagem: “Como
resposta, uma gargalhada sem dentes e de barba suja, desgrenhada” (BRAFF, 2006,
p. 127). O riso exacerbado do Gordo intensifica o desejo do Andarilho de
recuperar o objeto. O antissujeito ri, como resposta ao pedido de devolução do
gorro: “[...] e o Gordo se finava naquela gargalhada [...]” (BRAFF, 2006, p.
129). Nesse momento, o Andarilho assume o papel actancial de sujeito do fazer e
golpeia a cabeça do antissujeito com uma pedra. Assim, o Andarilho, novamente
em estado de conjunção com o gorro, conclui com sucesso a performance de
recuperação do objeto-valor: “O gorro, finalmente recuperado” (BRAFF, 2006, p.
130).
Considerando os conceitos de rotina e acontecimento,
consideremos as passagens do texto:
O primeiro inverno passado na estrada refluiu como sensação,
aquele frio na cabeça. O frio que então sentia machucava-lhe o corpo todo, mas
de uma forma tão aguda que o céu acabava distanciando-se muito, como uma coisa
inatingível. (BRAFF, 2006, p. 128).
Quando acordou da
sesta, as pálpebras desgrudando-se ainda com dificuldade, a primeira coisa que
viu foi seu gorro de lã, como um sol colorido na cabeça do Gordo. Então sentiu
frio na cabeça, um frio antigo, e uma náusea gelada subiu-lhe do estômago cheio
até inundar sua boca de um gosto amargo: uma sensação de vida inútil. (BRAFF,
2006, p. 129).
A sesta, no conto, pode ser considerada um fato, pois é algo
corriqueiro, rotineiro para o Andarilho e faz parte do “universo de excessivo
entorpecimento, sem qualquer expectativa de que algo novo irrompa na rotina em
que o sujeito vive imerso” (MERÇON, 2009, p. 396).
Segundo o dicionário Houaiss (2009), o lexema “sesta” pode
ser definido como “repouso após o almoço”. Outro significado pode ser
“ausência, cessação de movimento, de trabalho”. Tais sentidos nos levam a
observar que, no texto de Braff, o ator Andarilho se encontrava, antes da perda
do gorro, fazendo a sesta. Assim, as valências de intensidade e de extensidade,
pressupõe-se, estavam enfraquecidas. Isso porque as subvalências de andamento e
de tonicidade apresentavam uma desaceleração das atividades rotineiras do
sujeito, um relaxamento que ele se permitia durante o repouso. Da mesma forma,
em relação à valência extensiva, a subvalência da temporalidade pode ser
relacionada à sesta, enquanto extensão do almoço, pois fica pressuposto que ela
teve uma duração relativamente longa, como se pode notar na passagem: “[...] as
pálpebras desgrudando-se ainda com dificuldade [...]” (BRAFF, 2006, p. 129).
Além disso, o andarilho encontrava-se em um espaço aberto, ou seja, à sombra
uma árvore, a gameleira (BRAFF, 2006, p. 128). Isso se torna perceptível na
passagem: “[...] sol que atravessava a copa da árvore e vinha cair em feixes
longos e delgados sobre os dois homens que digeriam o almoço, sentados sobre
pilhas de pedras” (BRAFF, 2006, p. 129).
Ao acordar da sesta, algo incomum acontece: o Andarilho vê
seu gorro na cabeça do companheiro de estrada, o Gordo. Pode-se considerar que
nesse instante o modo de eficiência do conseguir, grandeza que caracteriza o
esperado por parte do sujeito, dá lugar ao sobrevir – instalação do inesperado
no campo de presença do sujeito (ZILBERBERG, 2007, p. 18). O Andarilho percebe
nesse momento que está desprovido do calor do objeto e, consequentemente, do
conforto que o gorro lhe proporcionava: “Quando acordou da sesta, [...] a
primeira coisa que viu foi seu gorro de lã, como um sol colorido na cabeça do
Gordo. Então sentiu frio na cabeça” (BRAFF, 2006, p. 129). Estabelece-se,
assim, uma tensão na narrativa. A carga tímica do sujeito é intensificada, a
partir da ruptura que sofre em sua rotina de dormir, aquecido com o gorro na
cabeça, e acordar com a constatação do inesperado roubo do gorro.
Arrebatado pelo
sobrevir, ou seja, pelo “andamento mais vivo que o homem, na condição de
sujeito sensível, pode sofrer” (ZILBERBERG, 2011, p. 170), marca do
acontecimento, no momento em que acorda e vê o gorro na cabeça do antissujeito,
o Andarilho passa a ser apreendido pelo sofrer: “[...] um frio antigo, e uma
náusea gelada subiu-lhe do estômago cheio até inundar sua boca de um gosto
amargo: uma sensação de vida inútil” (BRAFF, 2006, p. 129).
Como o modo de existência, depende do modo de eficiência
diante do sobrevir, ou seja, do inesperado roubo do gorro, evidencia-se que o
Andarilho é o sujeito que apreende e é ao mesmo tempo apreendido por aquilo que
o apreende, pois, de acordo com Zilberberg (2007, p. 22) “apreender um
acontecimento, um sobrevir, é, antes de tudo, e talvez principalmente, ser
apreendido pelo sobrevir”. Nesse momento, o sujeito é reportado, por meio de
suas lembranças, a um período específico de sua vida: o primeiro inverno passado
na estrada, momento em que “Tão-somente vivia por não saber outra coisa”
(BRAFF, 2006, p. 128). Revela-se aí a consternação do Andarilho frente ao
acontecimento. Ao mesmo tempo, as figuras “frio”, “náusea gelada”, “gosto
amargo” revelam notações somáticas que manifestam as sensações provocadas no
sujeito pelo distanciamento do objeto.
Sem o calor proporcionado pelo gorro, o sujeito, estupefato
diante do acontecimento, afetado, perturbado e com o curso do tempo
momentaneamente suspenso, rememora o primeiro inverno passado na estrada: “O
primeiro inverno passado na estrada refluiu como sensação” (BRAFF, 2006, p.
128). Com essa reminiscência, no momento em que sofre o roubo do gorro, o
Andarilho volta a sentir, na cabeça, a mesma sensação de frio de outrora, que
machucava todo seu corpo de forma aguda. Nota-se uma nova notação somática,
figurativizada nessa passagem em que o lexema “refluir”, no sentido do
retrocesso no tempo, intensifica a sensação de frio sentido no pretérito pelo
sujeito, que, anteriormente aquecido volta a senti-lo de forma intensa. Temos
então uma aceleração do andamento do discurso, associada a uma acentuação do
sofrer do sujeito.
O prazer do conforto proporcionado pelo gorro revela, por
outro lado, a importância da sensorialidade na relação do sujeito com o objeto
gorro. Três vezes, nas quatro páginas do conto, especialmente quando o
Andarilho é impactado pelo sobrevir do acontecimento, o gorro é comparado ao
sol: “Seu gorro como um sol colorido na cabeça do Gordo” (BRAFF, 2006, p. 127).
Outro símile, em que se nota também a presença da sinestesia, se manifesta no texto quando o
Andarilho relembra o dia em que recebeu o objeto: “O gorro jazia imóvel sobre
seu peito, feito uma propriedade sua, tão sólido como um sol colorido e quente”
(BRAFF, 2006, p. 128). A reiteração do atributo quente nessas passagens sugere,
pois, que o calor proporcionado ao Andarilho pelo gorro é intenso e,
consequentemente, importante para o sujeito, revelando o auge da apreensão do
valor do objeto pelo sujeito. Lembremos que a percepção estética, como afirma
Greimas (2002, p. 35), pode ocorrer sobre o plano visual, associado a uma
hierarquia de sensações na qual a luz se situa no nível mais profundo. No texto
braffiano, ela é manifestada pelo colorido do sol.
Nota-se ainda que o enunciador explora a sensação tátil que,
dentre todas é a mais profunda, segundo Greimas (2002, p. 85), o que corrobora
a intensidade do desejo do Andarilho de manter a conjunção com o gorro. Essa
profundidade da sensação tátil, relacionada ao calor proporcionado pelo objeto,
ilustra a tonificação cada vez mais acentuada do acontecimento no eixo da
intensidade, conforme diz Zilberberg (2011, p.74-75). Trata-se, portanto, da
mistura sinestésica entre as sensações da visão e do tato que, ao mesmo tempo,
intensifica a percepção do sujeito em relação ao valor do objeto perdido.
O Andarilho, nesse momento, sem o gorro é tomado pela
sensação da inutilidade de sua vida: “Então sentiu um frio na cabeça, um frio
antigo, e uma náusea gelada subiu-lhe do estômago cheio até inundar sua boca de
um gosto amargo: uma sensação de vida inútil” (BRAFF, 2006, p. 129).
À medida que o sujeito apreendido pelo acontecimento se
lembra do frio que sentira no passado, recorda-se também do momento em que
ganhou o gorro. Podemos observar, nesse momento, a representação implicativa em
que há um respaldo mútuo entre o direito e o fato (ZILBERBERG, 2007, p. 23): se
o gorro fora jogado sobre seu peito, então lhe pertencia. Contudo, o sujeito
admirado também percebe que o mesmo gorro, que há tanto tempo lhe pertencia,
que era seu por direito, de repente está na cabeça de outro sujeito. Tal
constatação revela a natureza concessiva do acontecimento, em que se dá a
“realização do irrealizável” pelo sobrevir (ZILBERBERG, 2011, p. 176-177), isto
é, embora não parecesse possível ter o gorro roubado pelo Gordo, o companheiro
roubou seu objeto.
A temporalidade, até então aniquilada pelo sobrevir,
abreviada pelo andamento acelerado, associado ao sofrer do andarilho se
recompõe, quando ocorre respetivamente a desaceleração e a atonização do
andamento e da tonicidade, ou seja, quando o sujeito retorna à atitude
momentaneamente suspensa pelo acontecimento (cf. ZILBERBERG, 2011, p. 171).
Nessa perspectiva, observemos a passagem a seguir do início do texto: “Seu
gorro de lã, como um sol colorido na cabeça do Gordo, foi a primeira coisa que
viu quando acordou. Então pediu uma primeira vez, a mão teimosa estendida”
(BRAFF, 2006, p. 127).
Observa-se no excerto citado que, no campo de presença do
sujeito, a tensão, ocasionada pela primeira percepção de que o gorro estava na
cabeça do Gordo, é atenuada. Portanto, a intensidade (andamento e tonicidade)
do sobrevir esmaece à proporção que na extensidade, o tempo suspenso volta a
existir. Nesse momento, ocorre um relaxamento das tensões do sujeito e ele
pede, pela primeira vez, que o objeto lhe seja devolvido: “− Me dá” (BRAFF,
2006, p. 127).
A resposta do Gordo ao pedido do Andarilho é uma gargalhada.
Outro pedido e, como retorno, o sujeito se depara com o riso ainda mais alto do
companheiro. Mas o Andarilho, não desiste de recuperar o gorro e pede novamente,
tendo como resposta, outra gargalhada. Em um total de três pedidos de devolução
do objeto, o Andarilho recebe três gargalhadas como resposta. Assim, conforme o
sujeito suplica reiteradamente que o Gordo lhe devolva o gorro, seu desejo de
conjunção com o objeto se intensifica, e o enunciador desvela no texto a forma
como se dá a percepção da gargalhada pelo sujeito: “gargalhada sem dentes” –
“ria cada vez mais alto” – “se finava afogado naquela gargalhada”.
Diante da recusa do Gordo em devolver o gorro, o Andarilho o
apedreja – “A pedra que rachou a cabeça do Gordo e silenciou todas as histórias
que ele contava [...]” (BRAFF, 2006, p. 130) – e entra em conjunção com o
objeto novamente: “O gorro, finalmente recuperado, tinha uma pequena mancha de
sangue [...]” (BRAFF, 2006, p. 130). Para o Andarilho, apedrejar o Gordo é um
gesto natural, como revela a passagem em que percebe a mancha de sangue no
objeto: “[...] pequena mancha de sangue, que em pouco tempo estaria seco,
apenas uma pequena mancha escura” (BRAFF, 2006, p. 130).
A agressão e a morte do Gordo, figurativizada no texto pelo
apedrejamento, configura o que Lombardo (2005, p. 279) chama de “justiça
selvagem”: a devolução do mal com o mal, que constitui a vingança – paixão
antiga, praticada desde a mitologia grega pelos deuses, mas que passou a ser
considerada negativa pelo cristianismo ao opô-la ao perdão. Ainda segundo a
pesquisadora, na modernidade, com o advento das leis que organizam a justiça, a
“prática selvagem do castigo”
passou a ser condenada e essa paixão deixou de existir enquanto prática social.
Nesse sentido – deve-se ressaltar – ao praticar a vingança
como justiça selvagem, o Andarilho revela o processo de desumanização a que foi
submetido, apreensível no modo natural como ele encara o apedrejamento e morte
do Gordo: “Aquele riso grosso, do Gordo, não era uma alegria leve e doce,
provida com as suavidades da vida. Não era. Seu riso vinha de uma região
obscura, quase o inexplicável, quando se chama a morte” (BRAFF, 2006, p. 138).
No desenlace do conto, o Andarilho volta a sua rotina de
errante, perambulando pela estrada, após recolocar o gorro na cabeça, como se
percebe na passagem: Apesar de ser uma tarde quente de sol, o Andarilho, com
seu gorro na cabeça, pôs-se na estrada “como se tivesse onde chegar” (BRAFF,
2006, p. 130).
Conclusão
O conto examinado apresenta o acontecimento que irrompe no
texto com o roubo do gorro pelo Gordo. Notamos que há um recrudescimento da
carga tímica do sujeito Andarilho, pasmo com a ação do companheiro que não
esperava ser efetivada. O Andarilho sente a intensificação da espoliação que
sofrera até que ela se torna insuportável. O sujeito não aceita a perda do
único objeto em que inscreve valor, o gorro, e mata o espoliador. Nesse
sentido, o retorno do Andarilho à caminhada sem destino, após matar o
companheiro, voltando a “[...] enfrentar as noites frias de inverno” (BRAFF,
2006, p. 130), revela ao enunciatário que ele retoma sua rotina, encarando o
ato operado contra o Gordo, seu companheiro, como gesto natural.
O apedrejamento do Gordo que implícita seu assassínio se
associa, pois, ao tema da desumanização do ator. Assim, o Andarilho,
decepcionado com a perda do gorro, é agressivo e ataca fisicamente o outro,
para recuperar seu objeto. Após esse ato, com o enfraquecimento das tensões
acumuladas, o andarilho retorna ao estado de relaxamento. Desse modo, o
enunciador tematiza, no texto, mais que a violência do Andarilho contra o
companheiro, que ele encara de modo natural, como justiça selvagem, a violência
contra o pária, que ele representa, operada por uma sociedade que o leva à
marginalização social.
REFERÊNCIAS
BARROS, D.L.P. Teoria do discurso. Fundamentos
semióticos. São Paulo: Atual, 1988.
BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru:
EDUSC, 2003.
BRAFF, M. A coleira no pescoço: contos. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 139-160.
DITCHE, E. R.; FONTANILLE, J.; LOMBARDO, P. Dictionnaire
des passions littéraires. França: Belin, 2005.
GREIMAS, A. J. Da imperfeição. São Paulo: Hacker
Editores, 2002.
GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica.
Trad. Alceu Dias Lima et. al. São Paulo: Contexto, 2011.
HOUAISS. Dicionário eletrônico Houaiss da língua
portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
MERÇON, Francisco. O "acontecimento" e o discurso
literário do século XX. Alfa: Revista de Linguística, v. 53(2), p.
391-404, 2009. Disponível em . Acesso em: 17/out./2013.
SILVA, N. F. C. Sutilezas entre o interno e o externo: literatura
e sociedade nos contos de Menalton Braff. 129 f. 2011. Dissertação (Mestrado em
Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e
Letras, Campus de Araraquara.
ZILBERBERG, C. Síntese da gramática tensiva. Significação -
Revista Brasileira de Semiótica. Trad. Luiz Tatit, Ivan Carlos Lopes. São
Paulo, n.25, p. 164-204, 2006.
ZILBERBERG, C. Louvando o acontecimento. Revista Galáxia.
Trad. Maria Lucia Vissotto Paiva Diniz. São Paulo, n.13, p. 12-28, 2007.
ZILBERBERG, C. Elementos de semiótica tensiva. Trad.
Ivan Carlos Lopes, Luiz Tatit e Waldir Beividas. São Paulo: Ateliê Editorial,
2011.
ZILBERBERG, C. Le libertinage comme forme de vie. Nouveaux
Actes Sémiotiques, nº 115, 2012. Disponível em
. Acesso em:
20/mar./2013.
Artigo recebido em março de 2016.
Artigo aceito em maio de 2016.
Notas:
1 Doutoranda pelo Programa de
Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP - Campus Araraquara,
flaviakarlar@hotmail.com. O presente artigo integra a pesquisa de mestrado
“Paixões, acontecimentos e formas de vida em contos de Menalton Braff. Uma
abordagem semiótica”, realizada no Programa de Pós-Graduação em Linguística da
Universidade de Franca – Unifran, com bolsa de pesquisa Capes Prosup.
2
Doutora
em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP - Campus Araraquara, é
coordenadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística da
Universidade de Franca - Unifran, vl-abriata@uol.com.br.
3
Segundo
Denis Bertrand (2003, p.431), a tímia é a disposição afetiva que “determina a
relação que um corpo sensível mantém com seu ambiente”. Quando essa relação é
positiva, é considerada eufórica. Quando é negativa, é considerada disfórica.
4 Para Claude
Zilberberg (2006, p.169), “a tensividade é o lugar imaginário em que a
intensidade - ou seja, os estados de alma, o sensível - e a extensidade - isto
é, os estados de coisas, o inteligível- unem-se uma a outra”.
5 O andamento, ainda na perspectiva zilberberguiana, “rege a duração por uma correlação inversa, na medida em que a velocidade, para os homens, abrevia a duração do fazer: Quanto mais elevada é a velocidade, menos longa é a duração - apresentando-se o ser unicamente como um efeito peculiar à lentidão extrema” (ZILBERBERG, 2006, p.171, grifos do autor).
6 A tonicidade está relacionada à espacialidade, principalmente no que tange à profundidade, pois, em uma correlação conversa, mais amplo será o campo de desdobramento da tonicidade, quanto mais forte ela for (ZILBERBERG, 2006, p.171).
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