Esta coluna reúne textos de Menalton Braff sobre cada um de seus livros ainda inéditos.
Em 2015 fui surpreendido por um convite inusitado: visitar um presídio de Readaptação para a vida em sociedade – um regime bem diferente do que sempre imaginei ser o ambiente nas penitenciárias. Um grupo de vinte e dois detentos, pertencentes a um grupo de leitura, havia lido Que enchente me carrega? e queriam conversar com o autor, que souberam ser da região.
A recepção foi alegre, com os funcionários e o Diretor muito receptivos, uma mesa com salgadinhos e refrigerantes, tudo isso enquanto os detentos passavam conversando e rindo para a biblioteca. Biblioteca, sim. Em um canto observei as mesas de leitura, porque as cadeiras estavam colocadas em fileiras ao rés das paredes e ocupadas pela turma toda com seus uniformes.
O Diretor me pediu que não fotografasse os rostos. Eles não deveriam ser
identificados em uma rede social.
Por mais de uma hora falei sobre o romance, sua gênese, sua estrutura, a técnica narrativa empregada (predominância do fluxo de consciência).
Então começamos a trocar perguntas e respostas. Ficai impressionado com o nível de compreensão que eles tiveram de fatos do romance que muita gente aqui fora nem sonhou em entender. Um dos casos, apenas como exemplo, foi o sumiço da Clotilde, que o Firmino ora pensa que fugiu, ora pensa que a assassinou e a enterrou no fundo do quintal. Mesmo essa confusão tinha ficado clara para eles como o princípio da perda do pensamento lógico do protagonista.
Bem, ficamos mais uma hora eles perguntando e eu respondendo. Depois disso, conversei com vários dos detentos, que me procuraram para falar de suas vidas pregressas e de suas expectativas a respeito do futuro.
Saí de lá tão impressionado que não demorou muito para que antes de pegar no sono eu começasse a criar situações, personagens, espaços, razões e tudo mais de que se tece um romance.
Mas me deu vontade de criar uma estrutura até então não utilizada e foi o que fiz. Fragmentos que se sucedem, alternância de quatro narradores com frases que invadem os textos dos diversos narradores.
Enfim, uma experiência da qual saí satisfeito e acho que o romance merece ser publicado.
O título, como não poderia deixar de ser remete à ideia da estrutura do romance que tem alguma coisa da fuga musical. E fuga é pensamento muito frequente entre os detentos, por isso Tocata e fuga a quatro vozes.
Tocata e fuga a quatro vozes
Em 2015 fui surpreendido por um convite inusitado: visitar um presídio de Readaptação para a vida em sociedade – um regime bem diferente do que sempre imaginei ser o ambiente nas penitenciárias. Um grupo de vinte e dois detentos, pertencentes a um grupo de leitura, havia lido Que enchente me carrega? e queriam conversar com o autor, que souberam ser da região.
A recepção foi alegre, com os funcionários e o Diretor muito receptivos, uma mesa com salgadinhos e refrigerantes, tudo isso enquanto os detentos passavam conversando e rindo para a biblioteca. Biblioteca, sim. Em um canto observei as mesas de leitura, porque as cadeiras estavam colocadas em fileiras ao rés das paredes e ocupadas pela turma toda com seus uniformes.
O Diretor me pediu que não fotografasse os rostos. Eles não deveriam ser
identificados em uma rede social.
Por mais de uma hora falei sobre o romance, sua gênese, sua estrutura, a técnica narrativa empregada (predominância do fluxo de consciência).
Então começamos a trocar perguntas e respostas. Ficai impressionado com o nível de compreensão que eles tiveram de fatos do romance que muita gente aqui fora nem sonhou em entender. Um dos casos, apenas como exemplo, foi o sumiço da Clotilde, que o Firmino ora pensa que fugiu, ora pensa que a assassinou e a enterrou no fundo do quintal. Mesmo essa confusão tinha ficado clara para eles como o princípio da perda do pensamento lógico do protagonista.
Bem, ficamos mais uma hora eles perguntando e eu respondendo. Depois disso, conversei com vários dos detentos, que me procuraram para falar de suas vidas pregressas e de suas expectativas a respeito do futuro.
Saí de lá tão impressionado que não demorou muito para que antes de pegar no sono eu começasse a criar situações, personagens, espaços, razões e tudo mais de que se tece um romance.
Mas me deu vontade de criar uma estrutura até então não utilizada e foi o que fiz. Fragmentos que se sucedem, alternância de quatro narradores com frases que invadem os textos dos diversos narradores.
Enfim, uma experiência da qual saí satisfeito e acho que o romance merece ser publicado.
O título, como não poderia deixar de ser remete à ideia da estrutura do romance que tem alguma coisa da fuga musical. E fuga é pensamento muito frequente entre os detentos, por isso Tocata e fuga a quatro vozes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças