quinta-feira, 7 de novembro de 2019

CRÍTICA LITERÁRIA

Esta coluna reúne críticas literárias.

A CULTURA DO LIVRO E OUTRAS*

(Wagner Coriolano de Abreu)

De acordo com as normas de documentação da ABNT e organismos internacionais, o livro é publicação com mais de 48 páginas, além da capa. É nesse sentido que se diz os livros de Vianna Moog têm edição do Instituto Estadual do Livro, li todos os livros de Mário Sérgio Cortella, os livros da biblioteca de José Mindlin foram doados para a Universidade de São Paulo. Em homenagem a Mindlin, recentemente falecido, a televisão veiculou uma reportagem sobre os sebos. A dona de uma grande livraria afirmou que o livro, ao ficar velho, não deve ser destruído, pois ainda servirá a algum leitor e não é certo que terá outra edição.

Com exatamente 48 páginas, tenho em mãos o Plano Nacional do Livro e Leitura, impresso pelo Ministério da Cultura e Ministério da Educação, em formato de livro e datado de 2007. Além do Plano e seus quatro eixos, o leitor encontra no mesmo volume o artigo O PNLL e a dimensão cultural da leitura, de Gilberto Gil, e o artigo O livro, a escola e a leitura, de Fernando Haddad. Salta aos olhos a quantidade de vezes em que aparece no documento o termo livro.

Outro documento recente, não impresso, mas em versão digital, o Texto-Base da Conferência Nacional de Cultura, de 2010, cujo tema geral trata de Cultura, Diversidade, Cidadania e Desenvolvimento, alarga a possibilidade de pensarmos o livro, não mais como publicação ou objeto de um plano de ação, mas como produção simbólica e instrumento da diversidade cultural. Nesse sentido, a cadeia econômica do livro (criação, produção, distribuição, consumo e fruição do bem

cultural) se insere no debate maior estabelecido pelo diálogo intercultural e pela democratização do acesso à informação.

Na dimensão simbólica da cultura, o livro preserva um conjunto de modos de viver, que, segundo o pesquisador Bernardo Machado, varia de tal forma que só é possível falar em culturas, no plural. O
Texto-Base – no eixo da produção simbólica e diversidade cultural – registra uma forma de cultura que não se apóia tradicionalmente no livro, embora utilize da representação gráfica. Quando fala da produção de arte e bens simbólicos, diz que a pintura corporal dos índios brasileiros exemplifica essa fusão de arte e patrimônio cultural. E ainda afirma que é uma manifestação cultural de entendimento simples para os que dela compartilham.

Atualmente, a pintura dos índios circula muito mais por meio de pequenos objetos, que são vendidos em espaços culturais e também nas vias públicas das cidades. Segundo a educadora Vãngri, do Ponto de Cultura Kanhgág Jãre (Raízes do Conhecimento), as crianças que saem a vender a produção nas ruas, poderiam estar no espaço do grupo recebendo os ensinamentos que constituem a riqueza
específica daquela tradição.

*Crítica publicada originalmente no livro "Sempre aos pares", da Carta Editora

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