MODOS DE DIZER CAMUS
(Wagner Coriolano de Abreu)
Para o nosso tempo, de visualidade e rapidez, um bom começo pode
ser uma frase. Albert Camus, no ensaio Herman Melville (1952), afirma: “o
escritor de talento recria a vida, ao passo que o gênio, além disso, a coroa
com mitos”. Outro bom começo acontece através de um traço do perfil literário.
Susan Sontag, no ensaio Os cadernos, de Camus (1963), descreve: “sob muitos aspectos é um rosto quase ideal, o
rosto de menino, bonito mas não muito, magro, forte, a expressão ao mesmo tempo
intensa e modesta”.
Tanto nas palavras de Camus sobre Melville quanto na descrição
que Susan Sontag faz do próprio Camus, sobressaem elementos que se relacionam a
esse homem franco-argelino, mais conhecido como autor da novela literária O
Estrangeiro. Camus torna-se notável pela ponte que estabelece entre o mito
grego e a expressão intensa e modesta das crises do pensar no mundo
contemporâneo, expondo em seus ensaios O mito de Sísifo (1942) e O homem
revoltado (1951), entre outros, a problemática da filosofia do absurdo. Neste
sentido, podemos dizer que literatura e filosofia correm pari passu na
escritura.
Uma terceira via de acesso ao pensamento de Camus encontra-se
na explanação Albert Camus, sentimento espontâneo e crise do pensar, do alemão
Jürgen Hengelbrock, publicado pela Nova Harmonia em 2006. De acordo com o editor,
Hengelbrock oferece uma imagem do filósofo que não se esgota numa queixa contra
o absurdo da existência, pois representa uma mundividência coerente e orientada
segundo a tradição antiga do ceticismo filosófico.
Hengelbrock não se detém na biografia do escritor, nascido
na periferia européia às vésperas da Primeira Guerra e falecido em 1960, mas sinaliza
a formação intelectual, informando-nos do leitor atento dos pensadores Edmund
Husserl e Friedrich Nietzsche. O professor da Ruhruniversität de Bochum,
Alemanha, baliza seu estudo pela hipótese de que, para Camus, a interrogação
filosófica só tem valor se der significado ao sentimento espontâneo e elementar
da vida.
A parte maior do Albert Camus, de Hengelbrock, examina o ensaio
O mito de Sísifo. O professor procura demonstrar o embate entre lógica do
pensamento e lógica da vida, o sentimento do absurdo e o caminho intermédio
“onde a inteligência pode permanecer clara”.
No mito grego, a personagem Sísifo permanece presa ao
castigo após desafiar Zeus; na releitura do mito, Camus oferece diferente
perspectiva de existência, quando coloca a decisão de viver acima da decisão de
deixar de viver. Assim, revela-se um leitor de Nietzsche, como bem observa o
professor de Bochum.
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