terça-feira, 21 de julho de 2020

LITERATURA: O QUE É ISSO? (9)

Acesse a publicação original.   

Entre 2014 e 2016, Menalton Braff produziu uma série de artigos sobre Literatura a pedido do jornal Celulose Online. Este ano, decidimos voltar a postar esses textos e hoje trazemos para vocês o de número 8.  Caso tenha interesse em ler os artigos anteriores, clique nos links a seguir:

Literatura: o que é isso? (1) / Literatura: o que é isso? (2)/
Literatura: o que é isso? (3)/ Literatura: o que é isso? (4)
Literatura: o que é isso? (5)/ Literatura: o que é isso? (6)
Literatura: o que é isso? (7) Literatura: o que é isso? (8)

No século XIX, a maior importância de um texto literário em prosa recaía no enredo. Como os fatos se articulavam, como eram resolvidos os conflitos, e os romancistas da época eram extremamente hábeis nessa urdidura. Já em fins desse século, com o início do Realismo, os fatos perdem importância, assumindo a primazia em uma obra a personagem. Em lugar do fato, agora o que mais interessa é como a personagem é construída e como é afetada pelo fato. É o início do que se convencionou chamar de romance psicológico. Está claro que tal tendência deve-se principalmente ao desenvolvimento das ciências da mente. Pode-se dizer, por exemplo, que Freud tem alguma responsabilidade por isso.

No decorrer do século XX, o fulcro da literariedade, entretanto, vai mudando de lugar. E cada vez mais, a linguagem assume o papel principal nessa história. O tipo de discurso, os recursos de retórica empregados, e que são essenciais à linguagem poética, são também exigências (não tão radicais como na poesia) na prosa literária.

Entre as figuras, algumas das mais empregadas, estão:

Metáfora – uma palavra (substituta) é empregada no lugar de outra (substituída)

Ex.: “Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora.” por barco – Iracema, de José de Alencar

Aliteração –  a repetição de sons consonantais.

Ex.:  “… com talento de braços executavam, leigos, ledos, lépidos.” – Primeiras estórias, de J. Guimarães Rosa

Metonímia – entre a substituta e a substituída, existe uma relação real, que pode ser o efeito pela causa, a parte pelo todo, o lugar pelo produto, a matéria pelo artefato, e assim por diante.

Ex.: “… a aventureira se enamorou do redator de um jornal, que não tinha vintém…” por fortuna. – Relíquias de casa velha, de Machado de Assis

Sinestesia – cruzamento de sentidos ou apenas a troca de um por outro.

Ex.: “… o do café aquecia…” O cortiço, de Aluísio Azevedo.

E muitos outros recursos como a prosopopeia, a ambiguidade, o eufemismo, a antítese, a elipse, a ironia etc.

Lembremo-nos, mais uma vez, que o texto literário, antes de ser comunicação, é expressão e, como tal admite sempre mais de uma leitura. Isso entretanto, não significa qualquer leitura. Por essa razão é que se trata de um tipo de discurso em que cabem omissões (daquilo que fica para o leitor preencher,  cabem os sentidos contrários ao que está dito, o caso da ironia, cabem duplos sentidos, como na ambiguidade).


Tais recursos de retórica comparecem em maior ou menor quantidade no texto literário, dependendo do domínio que escritor tenha sobre eles e de sua inclinação maior ou menor para a linguagem poética.

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