Entre 2014 e 2016, Menalton Braff produziu uma série de artigos sobre Literatura a pedido do jornal Celulose Online. Este ano, decidimos voltar a postar esses textos e hoje trazemos para vocês o de número 8. Caso tenha interesse em ler os artigos anteriores, clique nos links a seguir:
Literatura: o que é isso? (1) / Literatura: o que é isso? (2)/
Literatura: o que é isso? (3)/ Literatura: o que é isso? (4)
Literatura: o que é isso? (5)/ Literatura: o que é isso? (6)
Literatura: o que é isso? (7) Literatura: o que é isso? (8)
No século XIX, a maior importância de um texto literário em
prosa recaía no enredo. Como os fatos se articulavam, como eram resolvidos os
conflitos, e os romancistas da época eram extremamente hábeis nessa urdidura.
Já em fins desse século, com o início do Realismo, os fatos perdem importância,
assumindo a primazia em uma obra a personagem. Em lugar do fato, agora o que
mais interessa é como a personagem é construída e como é afetada pelo fato. É o
início do que se convencionou chamar de romance psicológico. Está claro que tal
tendência deve-se principalmente ao desenvolvimento das ciências da mente.
Pode-se dizer, por exemplo, que Freud tem alguma responsabilidade por isso.
No decorrer do século XX, o fulcro da literariedade,
entretanto, vai mudando de lugar. E cada vez mais, a linguagem assume o papel
principal nessa história. O tipo de discurso, os recursos de retórica
empregados, e que são essenciais à linguagem poética, são também exigências
(não tão radicais como na poesia) na prosa literária.
Entre as figuras, algumas das mais empregadas, estão:
Metáfora – uma palavra (substituta) é empregada no lugar de
outra (substituída)
Ex.: “Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai
singrando veloce, mar em fora.” por barco – Iracema, de José de Alencar
Aliteração – a
repetição de sons consonantais.
Ex.: “… com talento
de braços executavam, leigos, ledos, lépidos.” – Primeiras estórias, de J.
Guimarães Rosa
Metonímia – entre a substituta e a substituída, existe uma
relação real, que pode ser o efeito pela causa, a parte pelo todo, o lugar pelo
produto, a matéria pelo artefato, e assim por diante.
Ex.: “… a aventureira se enamorou do redator de um jornal,
que não tinha vintém…” por fortuna. – Relíquias de casa velha, de Machado de
Assis
Sinestesia – cruzamento de sentidos ou apenas a troca de um
por outro.
Ex.: “… o do café aquecia…” O cortiço, de Aluísio Azevedo.
E muitos outros recursos como a prosopopeia, a ambiguidade,
o eufemismo, a antítese, a elipse, a ironia etc.
Lembremo-nos, mais uma vez, que o texto literário, antes de
ser comunicação, é expressão e, como tal admite sempre mais de uma leitura.
Isso entretanto, não significa qualquer leitura. Por essa razão é que se trata
de um tipo de discurso em que cabem omissões (daquilo que fica para o leitor
preencher, cabem os sentidos contrários
ao que está dito, o caso da ironia, cabem duplos sentidos, como na
ambiguidade).
Tais recursos de retórica comparecem em maior ou menor
quantidade no texto literário, dependendo do domínio que escritor tenha sobre
eles e de sua inclinação maior ou menor para a linguagem poética.
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