quarta-feira, 21 de outubro de 2020

CANTIGAS DE AMIGOS

NOCAUTE*

(Carlos Bueno Guedes)

ali estava meu corpo entre cordas
como se estivesse num chiqueiro do poder,
pago para apanhar
o cinto de ouro de meu rival
tinha o brilho do ódio,
olhava fundo,
sacudia as luvas ,
no primeiro round
um golpe na minha nuca,
os covardes se escondem atrás do poder,
a plateia delira,
me seguro nas cordas,
as pernas bambas,
no segundo round procuro dançar,
prolongar o ritual,
abro as guardas
uma pancada no nariz,
senti que o sangue escorria
a plateia aplaudia
encostei no corner
o batedor escapava escarnio,
senti minha fragilidade
de ser apenas humano,
o corpo ainda suportava,
perdi o equilíbrio
cai e me levantei
no corpo os golpes duros da opressão fotografias de um tempo
vivido sofrido angustiado
no terceiro round
algodão eram como neves de meus sonhos,
a dignidade me mantinha em ser resistência,
meus golpes não atingiam
eram danças no vazio do ringue,
ali estava assombrados dos golpes,
agarrava o adversário, dançava de pernas cansadas,
até o quarto round
quando a plateia urravam
o fim
ainda pude sentir
que toda resistência saia de meu equilíbrio,
ainda pude saber que estava caindo
dentro de um negro abismo
em que o poder me enviou,
para sofrer na carne
uma queda que nunca terminaria !


* (poesia imaginada dentro de um hospital, o poeta tem que estar dentro de seu tempo, poesia a pensar em todos os grandes poetas que convivem comigo e ao grande autor meu irmão do longe Afonso Valente Batista , grande escritor português, brevemente a ser editado no Brasil ! As palavras vieram como golpes e fico desacertado de tombar entre elas ! Escrito em 14/9/2020

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