O ESPAÇO
Pág. 18 - "A vegetação da ilha é abundante. Plantas, capinzais, flores de primavera, de verão, de outono, de inverno vão se sucedendo com avidez, com mais avidez em nascer do que em morrer, invadindo o tempo e a terra uns dos outros, acumulando-se incontidamente. Em compensação, as árvores estão doentes: têm as copas secas, os troncos cheios de brotos."
Pág 19 - "Na parte alta da ilha, que tem quatro barrancos cobertos de capim (nos barrancos de oeste há pedras), estão o museu, a capela e a piscina."
"(...) O museu é um edifício grande, de três andares, sem telhado visível, com um corredor à frente e outro, menor, atrás, e com uma torre cilíndrica.
Encontrei-o aberto e logo me instalei nele."
"Tem um salão com estantes abundantes mas deficientes: não há senão novelas, poesia, teatro (excetuando-se um livrinho - Belidor: Travaux - Le Moulin Perse - Paris, 1937 - que estava sobre um console de mármore verde e agora recheia um bolso destes farrapos de calça que visto. (...)
Pág. 20 " ...(creio que perdemos a imortalidade porque a resistência à morte não evoluiu; seus aperfeiçoamentos insistem na ideia primitiva, rudimentar, de manter vivo todo o corpo. Só se deveria procurar conservar o que interessa para a consciência)."
"(...) Quatro grandes cálices de alabastro, em que se poderiam esconder quatro meias dúzias de pessoas, irradiam luz elétrica. Os livros melhoram um pouco esta decoração."
(...)
"A sala de jantar mede uns dezesseis metros por doze."
Pág. 21 - "O piso do salão redondo é um aquário. Em invisíveis caixas de vidro, na água, há lâmpadas elétricas (a única iluminação desse aposento sem janelas). Recordo o lugar com repugnância. Quando cheguei, havia centenas de peixes mortos: tirá-los foi uma operação horripilante; deixei correr água, dias e dias, mas sempre ficou o cheiro de peixe podre (que lembra as praias da minha pátria, com suas águas turvas pela multidão de peixes, vivos e mortos, uns pulando e outros infetando vastíssimas porções de ar, enquanto os incomodados moradores os enterram).
"Os quartos são modernos, suntuosos, desagradáveis. Há quinze apartamentos. No meu, fiz umas obras devastadoras, que deram poucos resultados. Abdiquei dos quadros - de Picasso -, dos cristais fumés, das forrações de valiosas procedências, mas fiquei vivendo numa ruína incômoda."
Há momentos, sobretudo os descritivos, em que a objetividade, a preocupação com os dados exatos de uma suposta realidade fazem lembrar os autores franceses do "nouveau roman". Ocorre, contudo, que Bioy Casares publicou A invenção de Morel pelo menos uns dez anos antes do surgimento dessa corrente na França, podendo-se dizer, portanto, que teria ele sido um dos precursores do movimento, em que pese o fato de ser sul-americano. A invenção de Morel é de 1940, e o "nouveau roman" só vai surgir na década de 1950.
Pág. 18 - "A vegetação da ilha é abundante. Plantas, capinzais, flores de primavera, de verão, de outono, de inverno vão se sucedendo com avidez, com mais avidez em nascer do que em morrer, invadindo o tempo e a terra uns dos outros, acumulando-se incontidamente. Em compensação, as árvores estão doentes: têm as copas secas, os troncos cheios de brotos."
Pág 19 - "Na parte alta da ilha, que tem quatro barrancos cobertos de capim (nos barrancos de oeste há pedras), estão o museu, a capela e a piscina."
"(...) O museu é um edifício grande, de três andares, sem telhado visível, com um corredor à frente e outro, menor, atrás, e com uma torre cilíndrica.
Encontrei-o aberto e logo me instalei nele."
"Tem um salão com estantes abundantes mas deficientes: não há senão novelas, poesia, teatro (excetuando-se um livrinho - Belidor: Travaux - Le Moulin Perse - Paris, 1937 - que estava sobre um console de mármore verde e agora recheia um bolso destes farrapos de calça que visto. (...)
Pág. 20 " ...(creio que perdemos a imortalidade porque a resistência à morte não evoluiu; seus aperfeiçoamentos insistem na ideia primitiva, rudimentar, de manter vivo todo o corpo. Só se deveria procurar conservar o que interessa para a consciência)."
"(...) Quatro grandes cálices de alabastro, em que se poderiam esconder quatro meias dúzias de pessoas, irradiam luz elétrica. Os livros melhoram um pouco esta decoração."
(...)
"A sala de jantar mede uns dezesseis metros por doze."
Pág. 21 - "O piso do salão redondo é um aquário. Em invisíveis caixas de vidro, na água, há lâmpadas elétricas (a única iluminação desse aposento sem janelas). Recordo o lugar com repugnância. Quando cheguei, havia centenas de peixes mortos: tirá-los foi uma operação horripilante; deixei correr água, dias e dias, mas sempre ficou o cheiro de peixe podre (que lembra as praias da minha pátria, com suas águas turvas pela multidão de peixes, vivos e mortos, uns pulando e outros infetando vastíssimas porções de ar, enquanto os incomodados moradores os enterram).
"Os quartos são modernos, suntuosos, desagradáveis. Há quinze apartamentos. No meu, fiz umas obras devastadoras, que deram poucos resultados. Abdiquei dos quadros - de Picasso -, dos cristais fumés, das forrações de valiosas procedências, mas fiquei vivendo numa ruína incômoda."
Há momentos, sobretudo os descritivos, em que a objetividade, a preocupação com os dados exatos de uma suposta realidade fazem lembrar os autores franceses do "nouveau roman". Ocorre, contudo, que Bioy Casares publicou A invenção de Morel pelo menos uns dez anos antes do surgimento dessa corrente na França, podendo-se dizer, portanto, que teria ele sido um dos precursores do movimento, em que pese o fato de ser sul-americano. A invenção de Morel é de 1940, e o "nouveau roman" só vai surgir na década de 1950.
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