Meu romance juvenil tem um final aberto, o que provoca a indignação de muitos jovens acostumados com tudo pronto, espaços todos fechados. Essa indignação estava entre os efeitos pretendidos.
Pois bem, uma série (9º ano) da Escola Época-Positivo, de Serrana, leu o livro, e por proposta da professora Ana Paula, quem não estivesse satisfeito com o final que criasse um. A Natália Urenha, uma das alunas, com vocação para narradora, como verão, me mandou seu final, que segue abaixo.
O abrir de olhos

- Artur, vamos a São Paulo nesse final de semana, seu pai vai começar a fisioterapia semana que vem, o médico fará alguns exames nele essa semana e disse que seria bom uma visita e nas seções da fisioterapia seria necessária nossa presença.
Não conseguia dar uma resposta a minha mãe, eu apenas sorria. O suor escorria na minha testa e me incomodava um pouco, todos aqueles pensamentos e o suor frio iam parando depois de receber a notícia, não estava acreditando, Eu ia ver meu pai, cara ! só consegui dizer:
-Claro, mãe, claro.
Umas lágrimas escorriam e se juntavam com o suor do pescoço. Claro, depois, como de costume ela disse que não iria mais relar no carro antes de ter uma carteira de motorista, e sorriu.
Cheguei em casa e havia um recado da Marília na secretária eletrônica. Fazia tempo que não conversava com ela, afinal, agora ela é só minha priminha mesmo, e ficaria sabendo pelo tio. Mas isso ainda me dói, eu tinha que ligar pra ela, e... caixa postal:
-Oi Mari, nossas conversas faz tanta falta... estou indo pra São Paulo, ele acordou Mari, ele acordou, tento falar contigo de lá, e Mari... eu te amo!
Desliguei o telefone e me dei conta de como eu estava tremendo, acabei de dizer que a amo! Eu estava certo de que era Miss Flora... ela me tirava o fôlego e me fazia delirar, uma certeza quase certa na verdade, Mas do que eu sabia mesmo era que Marília sempre foi uma das mulheres de minha vida e eu a amava.
É hoje, estamos na estrada há duas horas já, eu e minha mãe, a gente não se sentia bem assim há muito tempo. Já estava amanhecendo e a previsão de nossa chegada é para antes do meio-dia. Estamos nessa euforia desde quarta.
Chegamos ao hospital e não precisamos esperar muito tempo, fomos chamados até a sala do doutor e ele disse que no dia anterior meu pai tentou dizer algumas coisas, saia apenas uns resmungos mas já era um bom começo.
Ele ia ficar mais duas semanas aqui, fazendo a fisioterapia e já podia iniciar um tratamento na nossa cidade. Entrei no quarto primeiro que minha mãe, comecei a chorar e minhas pernas tremiam, deve ser a saudade. Mesmo impossibilitado de dizer alguma coisa, conversei com ele. Disse da cidade nova, do emprego e da escola, disse até da Marília. Sabia que ele estava me sentindo lá de alguma forma e me ouvindo, o tempo da visita acabou.
Hoje eu e minha mãe assistimos a uma sessão da fisioterapia, o médico mexia lentamente os braços dele e conversava com ele também. Procurei saber e é com a ajuda da fisioterapia que quem sai de um coma vai adquirindo seus sentidos novamente. Não consegui mais falar com a Mari e ela não respondeu mais meus recados.
Com tudo isso aprendi que não se pode abaixar a cabeça, nos entregar à derrota, por mais que a esperança esteja por um fio. Desisti da medicina, era fisioterapia que eu queria fazer agora... dar às pessoas a vontade de reviver.
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