Conheci Lila Ripoll nas ruas de Porto Alegre. Conheci de vista, de vê-la passar apontada pelas pessoas: Tá vendo aquela mulher baixinha? É a poeta.
E por onde passava, Lila deixava uma poeira de luz, que transformava o ambiente e nos iluminava. Forte, militante política, respeitada, era, ao lado de Mário Quintana, uma das glórias poéticas do Rio Grande do Sul. Mas a Lila, que nasceu em 1905, espalhou seus cantares até 1967, e sumiu. Poucas pessoas hão de lembrar-se das suas intervenções políticas tanto quanto de sua poesia.
Finalmente o Instituto Estadual do Livro, em 1998, assumiu seu papel e publicou a obra completa da poeta.
Não é coincidência ter morrido três anos depois do golpe militar, que a abalou inclusive com uma prisão.
Cinzas
Cingida por sete palmas,
descerei à terra, um dia.
Violetas roxas no peito,
fronte branca e alma fria.
Cabelos longos caídos
e arrastados pelo vento.
Em todo o corpo um espanto
e um lúcido entendimento.
Teu claro nome sonoro
entre os lábios, apertado.
Luas negras nos meus olhos.
E um segredo inconfessado.
Funestos ventos soprando,
em giros de contradanças,
do mar correrão os homens
e das ruas as crianças.
Estrelas, aves e nuvens
fugirão sem esperanças.
E o meu corpo diluído,
destruído,
derrotado,
manchará o céu de cinzas -
das minhas desesperanças!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças