terça-feira, 5 de novembro de 2013

CANTIGAS DE AMIGOS


Lila Ripoll
Conheci Lila Ripoll nas ruas de Porto Alegre. Conheci de vista, de vê-la passar apontada pelas pessoas: Tá vendo aquela mulher baixinha? É a poeta.

E por onde passava, Lila deixava uma poeira de luz, que transformava o ambiente e nos iluminava. Forte, militante política, respeitada, era, ao lado de Mário Quintana, uma das glórias poéticas do Rio Grande do Sul.

Mas a Lila, que nasceu em 1905, espalhou seus cantares até 1967, e sumiu. Poucas pessoas hão de lembrar-se das suas intervenções políticas tanto quanto de sua poesia.

Finalmente o Instituto Estadual do Livro, em 1998, assumiu seu papel e publicou a obra completa da poeta.

Não é coincidência ter morrido três anos depois do golpe militar, que a abalou inclusive com uma prisão.






             Cinzas

Cingida por sete palmas,
descerei à terra, um dia.
Violetas roxas no peito,
fronte branca e alma fria.

Cabelos longos caídos
e arrastados pelo vento.
Em todo o corpo um espanto
e um lúcido entendimento.

Teu claro nome sonoro
entre os lábios, apertado.
Luas negras nos meus olhos.
E um segredo inconfessado.

Funestos ventos soprando,
em giros de contradanças,
do mar correrão os homens
e das ruas as crianças.

Estrelas, aves e nuvens
fugirão sem esperanças.
E o meu corpo diluído,
destruído,
derrotado,
manchará o céu de cinzas -
das minhas desesperanças!

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