Da poeta paulistana Ruth do Carmo, o poema abaixo:
ESCRITOS (2012)
Avó
Hoje refaço seus passos
em sentido contrário,
mas na mesma calçada.
A fábrica para onde vou é outra.
Seu tecido é feito de gente,
de meu tear devem sair palavras.
(04-09-2012)
II
Novamente meus pés
sobre seu caminho, na calçada refeita.
Penso comigo: essas duas árvores tristes
– uma bem mais frágil
–
já faziam parte dos seus dias?
Hoje a fábrica que a sugou
e nos devolveu você em retalhos
é um reino de produtos e valores,
barulhos e filas.
Agora as pessoas do seu cenário
já são bem outras, ásperas e ocas
e então vai longe, dolorosamente longe,
uma esperança minúscula de renovação dos homens.
(11-09-2012)
III
Quando refaço sua história,
ressurge plácida imagem
atravessando estes portões,
ganhando a rua, livre na esperança,
mas tão absurdamente escrava
quanto os outros tantos corpos apressados,
libertos após dorido apito.
No dia em que a fábrica fechou as portas para sempre,
você sentou no meio-fio e chorou por dias.
Já não sabia mais quem era.
(25-09-2012)
IV
Quando imagino seus sentimentos
é dor e paz o que me percorre,
é bondade nua, triste olhar sereno,
e um medo da noite que a vida ensinou.
(02-10-2012)
Beleza! Um poema, uma estória,um tempo, uma vida! Um paralelo entre épocas! Parabéns!
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