quarta-feira, 29 de abril de 2020

CANTIGAS DE AMIGOS

VII
 (João Augusto)

Tudo está feito. Carece-nos destecer as distâncias, como a beleza, que com o homem busca se reconciliar. Escrevo com os olhos fechados o voo solitário de uma andorinha. A vida, como máquina de comoção, abre-se em dias úteis e guarda os domingos para estender ao sol a roupa lavada de lágrimas. Prendo o real em gaiolas, num ato inútil. Não se inventa como guardar as manhãs só com os olhos. Algum bicho é necessário para comer o podre da paisagem. Prezo a reza dos moribundos, a roda-viva que desce do céu a fuligem das vozes. Aluga-se uma cama vazia aos fundos deste poema. Aluga-se uma noite repetida no coração escuro do homem. Aluga-se o homem, que se esqueceu de amanhecer.

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