Um conto inédito.
Não há sol debaixo deste
caramanchão além das pequenas manchas redondas sem grande serventia para calor.
Me distraio com elas, que se movem ao sabor da brisa, muitas vezes as perco,
mas quase sempre as reencontro. Passei assim a vida inteira: tentando reter nas mãos abertas pequenas
manchas de luz, que perdia agora para encontrar mais tarde. A Moema sempre
dizia: Você parece que tem as mãos furadas. Lutamos a vida inteira juntos e
agora temos o costume de juntos descansar debaixo deste caramanchão. Minha
velha respira como se estivesse fingindo viver, aqui do meu lado, com suas mãos
ocupadas com a lã e as agulhas. Às vezes aproveitamos estas horas da tarde,
enquanto descansamos, para pensar na morte, que não deve andar muito longe, mas
o vazio, nestas ocasiões, torna-se tão grande que raramente dedicamos muito
tempo a considerações sobre o futuro.
Nossa perna